segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mania

Ele saía e tinha que ter uma coisa ou outra: um fone de ouvido tocando músicas que ele já estava enjoado de ouvir ou um cigarro na mão. Era essa mania de ficar ansioso por não ter nada oque fazer enquanto anda. O simples fato de cantarolar uma música ou dar um trago em um cigarro o deixava mais calmo, às vezes fazia os dois ao mesmo tempo. Enquanto isso olhava para o chão de vez em quando. Não podia pisar em cima das riscas do cimento, ele sempre lembrava, subir uma calçada com o pé esquerdo? Complicado. Pensava sempre no comportamento ecologicamente correto ao pegar uma folha de papel só para abrir a porta do banheiro no trabalho, mas se preocupava mais mesmo era com a gripe suína. Mania ele tinha muitas, mas nem se dava conta.
Um dia saiu por aí querendo retirar da vida todas as suas manias. A do fone de ouvido, cigarros, pisar nos quadradinhos certos, abrir a porta com um papel... Na primeira esquina pisou em cima de uma linha na calçada. Deu a volta calmamente, caminhando em direção de sua casa. Abriu a porta e pegou seus fones de ouvido e um maço de cigarros. Sentia que aquele dia não seria um bom dia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quem fala...?

Hoje acordei cedo, eu sei. Sou incoveniente, mas admito que estou cansado de chegar nas piores horas, não tenho culpa. São encontros inesperados que me fazem aparecer assim, de repente. Sei que atraso sua ida ao trabalho, seu passeio no parque e às vezes até deixo você sem saber para onde ir. Não... isso não é ciúme... Essa vida não é fácil, são idas e vindas... Já conheço o mundo inteiro, naveguei pelos sete mares mas isso não me traz conforto, é difícil não ter para onde ir, e deixar assim... o vento me levar. Às vezes sou como tempestade, às vezes sou leve como uma garota, mas nunca sou seco. Alguns me chamam de àgua que cai do céu, outros me chamam de chuva.

Silêncio

Pegar o ônibus àquela hora não era tão comum. Ele nunca imaginou que nesse horário tantas pessoas pegassem o mesmo ônibus que ele. Quase sempre havia um lugar para sentar, do lado da pessoa com a cara de maior inconveniente. Mas o que mais lhe agradava era o silêncio. Todos que estavam ali estavam cansados por isso não conversavam. Já era comum gostar do silêncio, logo ele que falava o dia inteiro no telemarketing. Mas o silêncio, ah... o silêncio. Cada segundo de silêncio soava como uma nota diferente e a canção ia se formando, o silêncio e o balançar do ônibus, e uma canção de ninar se formava. Ele adormecia em pouco tempo até perceber que o ponto ficou pra trás. Ah como ele odiava o silêncio, e essas notas musicais...