quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Recato.

Recatada até o último fio de cabelo. E hoje em dia ainda é difícil de se ver uma garota assim. Nem era tão bela e possuía traços orientais, os dentes não eram tão bem cuidados mas mantinha uma doçura no olhar, que fisgava corações, mas só corações. Como era recatada não se dava ao desleixo de receber um beijo no rosto, nem mesmo nas mãos. Como disse antes, recatada até o último fio de cabelo. Aquela mulher que todo homem gostaria de ter, pois não lhe daria o mínimo trabalho de lhe por um par de chifres a qualquer hora.
Um dia em um encontro de família um distante primo veio lhe cumprimentar com um beijo, ela apenas virou o rosto e fez um sinal de negativo com as duas mãos, como um sinal de repulsão. Não queria o cumprimento.
Certo dia, em uma dessas festas de casamento um convidado ficou indignado com essa reação e resolveu ser mais bruto com a reação. Forçou-lhe um beijo nos lábios, bruscamente. Ela então correu até o bolo do casamento, como se estivesse correndo para a fuga de um quarto em chamas, agarrou a faca que estava em cima da mesa e logo depois correu em direção ao rapaz que tentara lhe agarrar anteriormente, com a fúria nos olhos, os dentes não tão belos cerrando ao caminho enquanto corria. Esfaqueou o coitado até não haver mais sangue a ser despejado pela verde grama do jardim. Depois de dez anos de prisão voltou à vida e viu que nada era tão doce assim, a vida não poderia ser levada daquele jeito. Prostituíra-se então pelas ruas escuras de sua cidade, sujeita não só a beijos maliciosos e ardentes como também outras coisas mais. E fizera isso não por necessidade, mas para se tornar mais real, menos racatada, como pagando por um bom tempo que passou sendo assim, recatada demais, como se quisesse recuperar o tempo perdido.

Um comentário:

  1. nossa!!! Adorei essa guinada supreendente. Como se, de repente, você segurasse o leitor com força pelos braços e o chacoalhasse.
    a sensação é boa.


    ~ marie

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